Honraria a quem é mestre na arte de transformar pequenos negócios em fenômenos

25 de novembro de 2019 - 17:37 # # # #

Antonio Cardoso Texto
Tiago Stille Fotos

O empresário Edson Ventura será um dos homenageados com a Medalha da Abolição, na próxima sexta-feira (29). No perfil espacial ele conta como o empreendedorismo está no sangue da família

“Para quem começou do nada, ajudando o pai a vender farinha de trigo, fico orgulhoso por receber homenagem tão representativa”. A humildade nas palavras é traço marcante tanto nas conversas curtas quanto nas mais demoradas com o empresário cearense Edson Ventura. O trecho que abre esta matéria foi cuidadosamente colocado por ele, se referindo à Medalha da Abolição, honraria a ser recebida na próxima sexta-feira (29), em reconhecimento ao trabalho da família Ventura, que repercute diretamente na economia do Ceará.

Em sua simplicidade o empreendedor considera fantástico receber a Medalha, mas assegura não fazer estardalhaço e controlar a vaidade. “Sempre fui muito discreto. Queria deixar de ser tão grande. Receber essa homenagem das mãos do governador é para mim uma honra, mas apesar de morar aqui, e, assim como o governador Camilo Santana ser apaixonado pelo Ceará, não acho que sou esse expoente todo. Resumo este momento em uma palavra que direciono ao Camilo: gratidão”.

O ramo de venda de veículos que hoje soma a representação de oito marcas importantes (GM Fiat, Honda, Renault, Nissan, Kia, Honda Motos, Scania e Ford) e conta com mais de 1.400 funcionários começou com a revenda de carros. O então aspirante de grande empresário Edson Ventura contou, no início, com a ajuda de dois amigos que iam a São Paulo comprar carros e traziam para Fortaleza. Naquela época, Edson atuava mais dedicado à construção civil, mas sua paixão já eram os automóveis. “O pessoal que começou comigo vendendo no modo lojista era bem preparado. Era gente humilde, mas bem preparada”, lembra o empresário.

A boa desenvoltura para os negócios agiu como fermento em bolo e não poderia dar em outra: a coisa cresceu. “Depois de pouco tempo, conseguimos uma concessão da Chevrolet GM. Já existiam duas concessões da marca em Fortaleza. E a firma cresceu muito, talvez até mais do que as já existentes, porque a gente tinha muita amizade e isso influenciou muito”, fala, tratando dos bons relacionamentos, marca que bem define Ventura no dicionário da vida, indo além da definição apresentada nos dicionários formais, onde ventura seria mero acaso, sorte ou destino, termos que também o acompanham sempre.

Negócio de família

Assim como os negócios, a família cresceu e logo os filhos seguiram os passos do pai. Hoje são cinco filhos, sete netos e duas bisnetas. “Perdi meu pai cedo, mas enfrentei a vida e digo que tive muita sorte. Não tenho de que me queixar de Deus. Tive sorte nos negócios, tive sorte nas amizades que são excelentes e sorte na família. Genros e noras considero como meus filhos, porque somos muito apegados”, ressalta, orgulhoso. “Nós temos muita convivência e tenho aprendido bastante com todos eles”, complementa Edson Ventura, casado há 62 anos “com a mesma mulher”, como faz questão de ressaltar ao falar da esposa e sempre parceira Ítala Ventura. “Os negócios começaram comigo e com meu irmão, passou para os filhos e agora temos também os netos administrando. Já não sou tão necessário”, brinca. “Isso é um orgulho muito grande que tenho, da sucessão”.

Foi em uma viagem feita a Belo Horizonte em 1992, pelo filho primogênito, Júlio Ventura Neto, que veio mais uma concessão. Julinho, como trata carinhosamente o pai, mas sem fazer distinção aos outros, conheceu um dos diretores da Fiat. O negócio se concretizou e logo depois veio a Honda. “Essa foi um sucesso. Foi logo quando o carro (da marca) entrou no Brasil e já tinha a fama das motocicletas, o que influenciou muito”, rememora. “Hoje, nós temos quatro concessionárias Honda quatro rodas (carros) e cinco de duas rodas (motocicletas). Obviamente que em toda atividade existem os altos e baixos, mas graças a Deus temos a sabedoria de contornar”.

Sangue português

A família Ventura tem o espírito empreendedor e ousado, o espírito dos cearenses. Mas tudo começou com o pai de Edson, Júlio Ventura. “Em tudo o que falo e testemunho, falo do meu pai, que além de pai era um grande amigo”, lembra, com pausa emocionada na fala. Júlio Ventura era português, veio de Portugal para o Brasil fugido da guerra, sem dinheiro e se empregou numa firma no Rio de Janeiro. Pegava artigos de inverno na empresa e vendia no Amazonas. Certo dia, enquanto o navio no qual estava parou em Fortaleza, o vendedor decidiu tirar o dia para conhecer a cidade. Foi nessa andança que conheceu a jovem Margarida Carvalho, uma vendedora, filha de João Carvalho, um proprietário de loja de discos. Júlio Ventura e Margarida se casaram pouco tempo depois.

Com poucos recursos, Júlio se tornou representante de uma marca de farinha de trigo. “Isso foi o começo de nossa vida empresarial, vender farinha de trigo nacional que era boa, mas não tanto quanto a americana. Depois ele arranjou uma marca americana e virou o maior vendedor de farinha do trigo”, exclama Edson. “O comum de português vir para o Brasil era botar padaria, mas ele tinha pouquíssimo recurso para botar a padaria e representação não exigia tanto capital, você fica vendendo o que é do moinho”, complementa.

Nesse meio tempo, acrescenta o empresário, a família passou a morar em Fortaleza, no bairro do Outeiro (que posteriormente se tornaria Aldeota), após um parente de sua mãe vender a casa em Tamatanduba, no Eusébio, e comprar o espaço no qual hoje funcionam a Sanauto e uma escola particular. “Papai foi morar lá e começou a trabalhar muito. Ele comprou terrenos e construiu. Essa é mais uma de minhas atividades. Cheguei a construir e tive muitos resultados. Nossa vida empresarial é mais ou menos essa”, conta o empresário. Edson se diz envaidecido, também, por outros dois motivos. O primeiro, trabalhar ladeado pela avenida e rua que levam os nomes de seu pai (Avenida Júlio Ventura) e de seu avô (Rua João Carvalho). A outra vaidade é ter em sua garagem o carro que pertenceu a seu pai, um Lincoln ano 1949, readquirido em uma exposição de carros em Minas Gerais anos depois de Edson ter convencido o pai a vendê-lo. O veículo havia sido benzido pelo Papa Pio XII em uma das viagens da família, feitas por navio à Europa. O Lincoln tinha vaga garantida. “Esse carro eu tenho hoje e me casei nele”, rememora, cheio de entusiasmo.

 

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