Setembro Amarelo: Seduc promove atividades para debater a prevenção do suicídio nas escolas
14 de setembro de 2017 - 18:17 #escolas #prevenção #setembro amarelo #suicídio
Bruno Mota Assessoria de Comunicação da Seduc imprensa@seduc.ce.gov.br
Dando sequência às atividades em alusão ao Setembro Amarelo, campanha nacional que trata da prevenção do suicídio, a Secretaria da Educação (Seduc) promoveu dois eventos ao longo desta semana para evidenciar o tema em âmbito educacional. Nesta quinta-feira (14), foi realizado o I Seminário de Valorização da Vida. Na quarta-feira (13), a Seduc organizou debate sobre o papel da escola na prevenção do suicídio. Participaram das duas ações, professores, gestores escolares, além de representantes de instituições ligadas ao tema. As atividades foram promovidas pela Célula de Mediação Social e Cultura de Paz da Seduc.
A principal mensagem deixada pelos estudiosos convidados, em ambos os eventos, foi de que o suicídio é prevenível, e que as manifestações de sofrimento psicológico precisam ser identificadas, entendidas e acolhidas. “Esse trabalho faz parte da tentativa de desenvolver as competências socioemocionais como forma de fortalecer os nossos estudantes. Daqui surgem muitas sugestões de como podemos atuar”, observa Betânia Gomes, coordenadora da Célula de Mediação Social. “Ainda não conseguimos universalizar as iniciativas, mas existe um embrião nascendo, e precisamos ser resilientes para dar seguimento a este trabalho, buscando ferramentas para ajudar a quem está precisando”, projeta.
Entre os debatedores esteve o médico psiquiatra e professor do curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Fábio Gomes de Matos, criador do programa Pravida. Ele ressalta que a escola precisa ser um local acolhedor, sobretudo para os jovens que estão mais fragilizados.
“É preciso estarmos atentos aos sinais que os meninos e as meninas apresentam. Alunos que ficam sozinhos na sala na hora do recreio, que não interagem com os demais, que perderam o interesse pelas atividades que antes lhes causavam prazer. Que falam frases como ‘a vida não vale a pena ser vivida’, ‘as coisas não têm mais sentido pra mim’, ‘a vida é um tormento’, ‘a carga está muito pesada para os meus ombros’, podem estar sinalizando ideação suicida, e precisam de acompanhamento”, exemplifica o médico.
Fábio Gomes de Matos também defende que os próprios alunos auxiliem os gestores e professores nessa tarefa de identificar casos. “O principal, no momento inicial, é treinarmos as pessoas, inclusive os próprios alunos, pra que sejam ‘antenas’, no sentido de perceber como está a situação”, ensina.
Superação
A estudante Andreina Araújo, de 16 anos, é presidente do Grêmio Estudantil da Escola Murilo Borges, situada no bairro Vicente Pinzón, em Fortaleza. Ela revela que conhece diversos jovens da mesma faixa etária que já tentaram o suicídio, e que praticam a automutilação. A própria Andreina conta que já chegou a se cortar, algumas vezes, em momentos de angústia forte. “Hoje eu falo abertamente da situação que passei, para que as pessoas vejam o meu exemplo e saibam que é possível superar o problema”, esclarece.
Andreina participou de um curso de Círculos de Construção de Paz e hoje é uma facilitadora da iniciativa, auxiliando os colegas de escola. “Chamei os alunos que eu sabia que se mutilavam, e através deles conseguimos identificar outros casos graves. Eles precisam de voz”, salienta.
A jovem também reconhece a importância do Projeto Professor Diretor de urma (PPDT), que funciona em praticamente todas as unidades de ensino da rede estadual, no acompanhamento dos estudantes. A estratégia do Projeto consiste em manter um professor como diretor de uma turma, acompanhando todo o desempenho escolar destes estudantes até o final de sua escolarização, identificando vulnerabilidades, fazendo intervenções e construindo as pontes necessárias à conclusão de seu projeto de vida. “O Diretor de Turma fortalece os laços de amizade”, opina Andreina.
O major Edir Paixão, professor do Colégio Militar do Corpo de Bombeiros trabalha desde 2003 na prevenção do suicídio, e acredita que o tema precisa ser mais exposto na sociedade. “É necessário que se quebre o tabu, e as pessoas sejam acolhidas. A sala de aula é um escoadouro de sofrimento social. A sociedade materialista que criamos, ultracompetitiva, estimula o sofrimento. E temos que entender que não precisamos, necessariamente, ser ricos para sermos felizes”, considera.
Alessandra Silva Xavier, professora do curso de Psicologia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), estuda o tema há mais de 10 anos e desenvolveu, em tese de Doutorado, um programa de prevenção do suicídio a adolescentes em alto risco. A estudiosa acredita que a escola é um espaço privilegiado de prevenção. “Existe uma série de estratégias para ensinar o jovem a lidar com a dor e o sofrimento profundo. Temos que perceber o que causa esse sofrimento, identificar a sintomatologia, para oferecer o suporte e acolher as dores”, ressalta.
Valorização da Vida
O Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma das instituições que presta serviço de acolhimento, de forma voluntária e gratuita, a quem precisa de amparo emocional. Rose Dantas, coordenadora do Centro em Fortaleza, explica que a identificação não é necessária. “Procuramos respeitar a pessoa da forma que ela é, sem preconceitos, resguardando o sigilo. Os colaboradores passam por um treinamento antes de atender. Temos que estar preparados para todo tipo de situação”, esclarece.
O CVV existe há 55 anos no Brasil e há 30 no Ceará, com cerca de 2 mil voluntários em todo o País. “Um dos preceitos do Centro é o seguinte: se nesses 55 anos tivermos salvo uma vida, está valendo a pena o nosso trabalho. Às vezes a pessoa liga não só porque está pensando no suicídio, mas porque sofre de solidão, depressão, e a conversa é capaz de amenizar a dor”, aponta.
A instituição funciona 24h por meio do telefone 141, e também via skype, e-mail e site: www.cvv.org.br. Presencialmente, o atendimento funciona de 8h às 17h. “Raramente passamos mais de três minutos com o telefone parado”, conclui Rose.
O Instituto Bia Dote foi fundado em 2013 por Lucinaura Diógenes, com o objetivo de prevenir o suicídio e valorizar a vida, por meio de palestras a respeito do tema. A entidade foi criada em decorrência do suicídio da filha de Lucinaura, Bia, aos 13 anos. “Inicialmente fazíamos formações para professores e pais. Mas, a partir da demanda de uma professora, fizemos a formatação de uma palestra para adolescentes. A partir de então, fomos solicitados por algumas escolas para apresentar conferências. E nos comprometemos a não recusar nenhuma palestra”, comenta, lembrando que no ano de 2016 foram ministradas entre 4 e 6 palestras por semana.
Repercussão
Hugo Mendonça, promotor de Justiça do Ministério Público do Estado (MPCE), acredita que o tema precisa ser mais exposto socialmente, tanto em números, como em causas. “Os motivos que têm levado pessoas ao suicídio são cada vez mais heterogêneos. O MPCE tem participado de diversas ações no sentido de tornar o debate mais ativo. A partir dos fenômenos de estímulo ao suicídio criados nas redes sociais, além de séries de televisão, elaboramos notas técnicas com relação à prevenção ao ato. Pedimos aos promotores que estejam presentes nos debates em que a sociedade tem feito, e que estimulem cada vez mais a abordagem do tema”, sustenta.
A professora Gláucia Rebouças, coordenadora da Escola Eusébio de Queiroz, no município de Eusébio, atua diretamente no acolhimento aos estudantes que apresentem necessidade. Ela explica que a unidade de ensino desenvolve ações específicas neste sentido. “Entendi há muito tempo que não é preciso ser psicólogo ou psiquiatra para saber escutar alguém. Se a pessoa sofre, eu posso acolher”, frisa.
No início do ano, os alunos novatos são recebidos na escola por um grupo de veteranos. São selecionados 24 estudantes para ficarem responsáveis pelo processo de socialização, sendo 4 para cada turma de 45 alunos, durante dois dias. “Temos que buscar parcerias, porque não se faz nada sozinha. Treinamos ‘olheiros’, por meio de dinâmicas e estudos, para identificar situações de bullying, isolamento etc. Temos que olhar juntos na mesma direção”, argumenta Gláucia.
Também participaram do Seminário de Valorização da Vida a professora Suzana Kramer, do Laboratório de Relações Interpessoais (Labri) da UFC, apresentando a palestra “vínculos familiares e prevenção do suicídio”; e a psicóloga Fabiana Vasconcelos, do Instituto Dimicuida, abordando a temática das “brincadeiras perigosas: jogos de não oxigenação e adolescência”.