Dia do Trabalhador: com mais qualificação, cearenses passam a receber melhores remunerações
29 de abril de 2019 - 12:11 #EJA #ideb #Inep #Ipece
Fhilipe Augusto Texto
Marcos Studart Fotos
Em duas décadas, o estado mais do que triplicou a participação de pessoas com ensino médio e superior completo no mercado de trabalho, conforme estudo do Ipece
A máxima que ganhou o mundo com a terceira Lei de Newton de que toda ação gera uma reação pode ser aplicada quando conhecemos exemplos de trabalhadores que apostam na qualificação profissional como vetor para alcançar uma vida financeira estável. O jovem Igor Guilherme, 24 anos, acredita nisso e busca desde adolescente se dedicar aos estudos para colher bons frutos no futuro. Egresso da rede estadual cearense de educação, Igor está atualmente no quarto semestre do curso de administração de empresas e há um ano e meio já trabalha em uma agência bancária no município de Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza.
O bancário desde cedo buscou fazer escolhas que pudessem trazer boas oportunidades para ele. “Comecei a estudar na escola pública por causa do ensino profissionalizante. Fiz a opção pelo curso de informática, que na época estava em alta no mercado e era ainda algo relativamente novo. Fiz os três anos do ensino médio na Escola Estadual de Educação Profissional Joaquim Antônio Albano, em Fortaleza. Assim que concluí passei em uma faculdade pública no interior do estado”, disse o jovem.
Contudo, mesmo tendo planejado uma caminhada sem percalços, Igor teve que trilhar uma nova rota em sua busca pela qualificação profissional e inserção no mercado. “Após três semestres tive que abandonar a faculdade para voltar a Fortaleza, pois meu pai, na época, estava com problemas de saúde. Mas não desisti e continuei buscando. Logo consegui entrar em outra faculdade, desta vez privada, e em seguida comecei a trabalhar”, confidenciou.
A história do jovem Igor Guilherme se confunde com a de milhares de cearenses, principalmente nos últimos 22 anos. Essa informação é produto do estudo “Dinâmica do Mercado de Trabalho Cearense: Uma análise comparativa com o Brasil no período de 1995 a 2017”, do Governo do Ceará, por meio do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), e a Fundação Getúlio Vargas. Entre as conclusões o documento aponta o crescimento do rendimento da hora trabalhada cearense. De acordo com Alexsandre Cavalcante, analista de Políticas Públicas do Ipece, isso é fruto do aumento significativo dos índices educacionais dos trabalhadores no período entre os anos de 1995 e 2017, espaço cronológico avaliado pelo levantamento.
“Devido à melhoria na qualificação das pessoas elas passaram a ter um aumento de salário proporcional, porque a principal variável que explica a composição do salário é a qualificação do indivíduo e isso rebate direto na sua capacidade produtiva. Se o indivíduo tem melhores habilidades, ele é capaz de gerar maior retorno para o empresário, consequentemente vai receber um salário melhor. Na economia cearense o que a gente pode perceber nos últimos 20 anos foi uma melhoria muito rápida nos níveis de escolaridade convergindo para a média nacional, especialmente na faixa etária entre 14 e 17 anos”, explicou Alexsandre.
Mais escolarização
A informação pode ser constatada se compararmos os índices educacionais dos trabalhadores cearenses em 1995 e em 2017. O número de empregados com diploma superior mais que triplicou nessas duas décadas, passando de 4% para 12,8%. A participação de pessoas no mercado com o ensino médio completo também registrou crescimento expressivo, saltando de 10,9% para 38,8%. Aqueles com ensino fundamental II completo aumentaram sua presença de 9,6% para 16,1%. Por fim, os cearenses com ensino fundamental I incompleto caíram de 51,4% para apenas 14,8%.
Para o analista Alexsandre Cavalcante, essa maior escolarização dos cearenses tem a ver com os investimentos feitos em educação, que tem resultado em uma conscientização dos jovens da importância de se dedicar aos estudos. “Essas pessoas que trabalhavam e estudavam agora estão focando maior parte do seu tempo no estudo e não no trabalho. Então, de alguma forma a gente pode dizer que políticas públicas educacionais aqui do Estado estão tendo resultados positivos, incentivando crianças e jovens a permanecer mais tempo na escola. Em um curto prazo você tem uma menor participação na força do trabalho, mas a médio e longo prazo você vai ter pessoas melhores qualificadas”, ponderou.
Esse crescimento da proporção de trabalhadores mais escolarizados no mercado de trabalho cearense contribuiu fortemente para o aumento da renda média no período entre os anos de 1995 e 2017, que registrou alta de 50,57%, enquanto a média do país foi um crescimento de 29,15%. Alexsandre Cavalcante estima que o rendimento relativo de trabalhadores com diploma universitário chega a ser até mais de 150% maior do que aquele obtido por indivíduos que possuem apenas o ensino médio. “Estudos clássicos mostram que quanto maior o tempo de estudo, maior é o rebatimento sobre os salários. O que explica o aumento de salário é a habilidade do indivíduo, mas medir a habilidade é algo complicado, então a gente tenta mensurar a habilidade através de uma variável aproximada, e uma dessas variáveis é o tempo de estudo. Em média, quem tem mais anos de estudo ganha muito mais proporcionalmente do que quem tem menos anos de estudo. No Ceará, por exemplo, que tem ensino superior ganha em média três a quatro vezes mais do que uma pessoa que só tem o ensino médio, porque o número de pessoas formadas, apesar de ter crescido muito nos últimos anos, ainda é muito pequeno. Quando você vai para níveis educacionais mais elevados, como mestrado e doutorado, aí que essa faixa populacional é bem menor e os rebatimentos no salário se tornam proporcionalmente ainda maior”, ressaltou o analista.
Rede estadual
A rede pública cearense está entre as melhores do país em análise de fluxo escolar conforme levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O Ceará ocupou as primeiras posições entre os estados brasileiros com melhores indicadores de promoção, diminuição de repetência, queda de evasão escolar e migração para Educação de Jovens e Adultos (EJA) nos ensinos Fundamental e Médio.
A rede pública estadual é formada por 727 escolas e 450 mil alunos. Dessas, 251 funcionam em regime de tempo integral, das quais 130 são de Ensino Médio Regular e 121 são de Educação Profissional. As profissionalizantes já atendem a 50 mil alunos de 98 municípios matriculados e ofertam 53 cursos. Fortaleza conta com 21 escolas profissionais. Os alunos fazem o Ensino Médio integrado à Educação Profissional, com duração de três anos, e aulas das 7h às 17h. Durante o terceiro ano, o Estado propicia o acesso ao estágio curricular obrigatório e remunerado a todos os alunos. As Escolas de Ensino Médio Regular em Tempo Integral começam na 1ª série e a expansão ocorre gradualmente para as próximas séries. Cada escola oferta uma jornada de nove horas. O currículo é composto por 30 horas semanais de disciplinas da base comum a todos e 15 horas na parte flexível, sendo que 10 são escolhidas pelos 39 mil estudantes atendidos.
De acordo com o governador Camilo Santana, isso é fruto do trabalho planejado e pactuado que vem sendo feito pelo Estado há mais de uma década e que hoje já colhe frutos positivos. “Somos de um estado que só acredita em qualquer política pública com planejamento, foco e metas. O Ceará há 12 anos tinha um dos piores indicadores do país em educação e, nesse período, com uma política meritocrática, onde o imposto estadual é dividido de acordo com os indicadores de educação do município, conseguimos bons resultados. No último IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), das 100 melhores escolas públicas do Brasil, 82 são do Ceará. Já me perguntaram quais eram as minhas prioridades como governador e eu disse que uma delas era investir em educação para transformar nossas escolas em regime de tempo integral. Minha meta é chegar ao final do meu Governo com 50% da rede estadual funcionando nesse modelo”, enfatizou o governador.
No ensino superior o Ceará também apresentou uma considerável evolução. A população cearense no ano 2000 era de 7.417.734, dos quais 126.654 possuíam diploma de nível superior. Em 2017, o estado já contava com 21,6% a mais de habitantes, totalizando 9.020.460 pessoas. Contudo, o salto de cidadãos com ensino superior completo foi de quase 400%, chegando a 623.000 pessoas formadas.