Café Literário reúne leitores para debates sobre gastronomia e literatura

21 de agosto de 2019 - 17:03 # # # # #

Ascom Secult
Allan Taissuke - Fotos

Café Literário reúne leitores para debates sobre gastronomia e literatura

Nos primeiros dias de programação o espaço que exalta a cultura alimentar recebeu as potências da comida paraense, com Joana Martins, e dos sabores baianos, com Paloma Jorge Amado

As cidades, os livros e seus sabores. São os afetos que giram em torno destes elementos que o Café Literário vem despertando desde o sábado (18) na XIII Bienal Internacional do Ceará, com as vivências “Diz-me o que comes que te direi de onde és”. Diariamente, o espaço recebeu (e continuará recebendo até o último dia de evento) artistas e pesquisadores que leem textos relacionados à gastronomia e, com a cozinha e o trabalho dos estudantes da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco, oferecem pratos das mais diversas literaturas e localidades.

No sábado, primeiro dia da programação deste espaço, os sabores do Norte do Brasil foram apresentados com toda a sua potência através dos textos lidos por Joana Martins, diretora do Instituto Paulo Martins que tem um trabalho de fortalecimento da cozinha amazônica. Na ocasião, ela leu um texto do próprio pai, que dá nome ao instituto e que escreveu crônicas durante um ano e meio para um jornal de Belém, capital do Pará. “No trecho que eu li, ele cita uma viagem à Espanha para onde ele levou produtos amazônicos pela primeira vez para Ferran Adrià, na época o maior chef do mundo. Na ocasião ele levou o tucupi, que acreditava ser o sabor do século XXI e o jambu que é uma erva que causa dormência na boca e que encantou todos lá na Espanha”, contou Joana, ressaltando que na Bienal do Livro do Ceará não foi muito diferente. Seguindo a tradição paraense, os alunos da Escola de Gastronomia Social serviram o caldinho de tucupi com jambu em cuias, trazendo um pouquinho de Belém para Fortaleza.

Já no domingo (19), o espaço recebeu Paola Jorge Amado, que, como o próprio nome já indica, é filha do escritor baiano Jorge Amado. Com um trabalho sobre o comer na obra literária do pai, Paloma falou à Bienal sobre tudo que envolve esta ação e como o comer pode caracterizar um personagem, uma história e seu autor.

Ao ser questionada sobre essa relação entre literatura e comida, ela exemplificou: “papai tem uma trilogia chamada Subterrâneos da Liberdade, que foi escrita na Tchecoslováquia quando ele estava no exílio. O livro se passa entre São Paulo e Rio de Janeiro, não tem a ver com a Bahia, fala basicamente sobre política. Um belo dia a personagem principal, Mariana, vai ter um encontro com um dirigente do Partido Comunista. E o dirigente diz a ela: ‘me diga uma coisa, você já comeu um vatapá?’. Ela disse: ‘não, eu nunca comi’. Ele disse: ‘pois um dia eu vou te levar na minha casa’. Ela diz: ‘você é baiano?’. ‘Sou sim e a minha mulher faz um vatapá e uma moqueca de peixe que você vai lamber os beiços’. Nesses três livros, são raríssimas as referências à comida baiana. Aí eu já saio da caracterização do personagem para te dizer o que um psicólogo, e eu sou psicóloga de formação, pensa. O pobre do meu pai estava morto de saudades da Bahia. Ele não aguentava de vontade de comer um vatapá e uma moqueca de peixe”, comentou Paloma.

Se Jorge Amado estivesse no Café Literário neste domingo, então, teria saciado a sua vontade. Os estudantes da Escola de Gastronomia social ofereceram uma moqueca de peixe e uma moqueca de arraia servidas com arroz e farofa de dendê, pratos que, segundo Paloma, estão presentes em diversos livros do baiano.

Lina Luz, coordenadora do espaço de Cultura Alimentar da Bienal, faz questão, ainda, de ressaltar a diferença entre a Gastronomia e o campo que dá título a este eixo da programação: “assim como você pode falar do cinema e falar que tem ficção e documentário, quando a gente fala de Cultura Alimentar tem Gastronomia dentro dela, mas tem as formas de plantar, o agricultor faz parte da cultura alimentar e não só o chef de cozinha. Gastronomia diz respeito muito a esse espaço elitista, dos chefes de cozinha. Quando a gente trata de cultura alimentar é muito mais do que isso”. O Café Literário possui programação diariamente até o dia 25, a partir de 18h, e a degustação é gratuita.

Sobre a Bienal

A XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará é apresentada pelo Ministério da Cidadania e pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. Realizada pelo Instituto Dragão do Mar, Governo do Estado do Ceará, por meio da Secult, e Governo Federal, a Bienal do Livro conta com os patrocínios de Bradesco, Cagece, Grendene e Cegás, e com os apoios de Fecomércio, Sebrae, Universidade de Fortaleza (Unifor), Unilab, TV Ceará, Sistema Verdes Mares, Grupo O Povo, Café Santa Clara, RPS Eventos, Câmara Cearense do Livro, Sindilivros-CE, Câmara Brasileira do Livro (CBL), Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL), Associação Nacional de Livrarias (ANL), Prefeitura de Fortaleza e das Secretarias de Educação (Seduc), Turismo (Setur), Cidades (SCidades) e Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Estado do Ceará (Secitece).

Serviço

XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará
De 16 a 25 de agosto, de 10h às 22h
Centro de Eventos do Ceará
facebook.com/BienalDoLivroDoCeara
instagram.com/bienaldolivroce
bienaldolivro.cultura.ce.gov.br